Plano de Aula

Plano 1

OBJETIVOS – Levar os alunos à compreensão de informações implícitas e explícitas de uma crônica e de um conto. Assim como conhecer as diferenças entre os dois gêneros;

DISCIPLINA – Língua Portuguesa;

CONTEÚDO – Narrativa "Meu primeiro beijo", de Antonio Barreto. E conto "O primeiro beijo", de Clarice Lispector. Diferenças entre crônica e conto;

AVALIAÇÃO – Contínua, desenvolvida ao longo de todo o processo. E, pontual, através da participação nos momentos de discussão oral, nas respostas dadas às questões escritas e na produção final de texto;

PÚBLIO ALVO – alunos de 7º ano – E.F.II.

I - Meu Primeiro Beijo
Antonio Barreto

É dificil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
" Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de reperente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.


ROTEIRO DETALHADO DA AULA:

1. Questões para ativação de conhecimentos prévios / capacidades de compreensão:

1.1 Tem algum B.V. na sala? Com que idade deram o primeiro beijo? Foi bom? Foi estranho?         Alguém poderia relatar sua experiência?

1.2 Exploração do título:  Meu primeiro beijo... na perspectiva de quem? Da menina, do menino? Beijo hetero ou homo?


2. Leitura silenciosa do conto, seguida de leitura em voz alta pelo professor;


3. Recuperação do contexto de produção (oralmente, junto com o professor)

3.1 Em que suporte geralmente vem publicado esse tipo de texto?
3.2 Em que gênero textual você encaixaria esse tipo de texto?
3.3 Que tipo de linguagem foi usada neste texto?


4. Localização de informações explícitas (oralmente, junto com o professor)

4.1 Qual é o gênero do narrador? Em qual frase primeiramente aparece essa informação?
4.2 Quais são os apelidos atribuídos ao menino?
4.3 Segundo o personagem, quais reações o beijo provoca em nós?
4.4 A garota achava Paracelso bonito ou feio?


5. Inferências locais e globais (questões impressas, respondidas em duplas)

5.1 Explique o que você entende da frase “Você é a glicose do meu metabolismo”.
5.2 Como podemos fazer uma descrição do menino a partir das informações do texto?
5.3 “Nem eu nem ele sabia o que era o beijo”, levando em conta o ano em que foi escrito (1977), o que
       mudou em relação aos dias atuais?


6. Intertextualidade e interdiscursividade (após leitura do conto "O primeiro beijo", de Clarice Lispector)


O PRIMEIRO BEIJO

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)


6.1 (Questões orais): Compare os dois títulos: Por que um se chama “O primeiro beijo” e o outro “Meu
      primeiro beijo”?
6.2 Qual é o gênero textual de cada texto? (Trabalhar com os alunos as principais diferenças entre conto e crônica, comparando os dois textos: linguagem, enredo, etc.);
6.3 (professor monta quadro na lousa e preenche-o, de acordo com as respostas dadas pelos alunos): O que você percebe de semelhante entre os dois textos? E de diferenças?


7. Extrapolando o texto 

7.1 Você conhece alguma música que fale do primeiro beijo? Poderia trazer para socializar?
7.2 Apresentar para a turma um texto científico sobre o beijo.
7.3 Apresentar para a sala a música “Doces beijos”, do grupo Menudo.


8. Avaliação final

Transforme a crônica de Antônio Barreto num conto, fazendo as adaptações necessárias.



Plano 2

OBJETIVOS – Levar os alunos à compreensão de informações implícitas e explícitas de uma crônica e de um conto. Assim como conhecer as diferenças entre os dois gêneros;

DISCIPLINA – Língua Portuguesa;

CONTEÚDO – Narrativa "No Aeroporto", crôncia.

AVALIAÇÃO – Contínua, desenvolvida ao longo de todo o processo. E, pontual, através da participação nos momentos de discussão oral, nas respostas dadas às questões escritas e na produção final de texto;



PÚBLIO ALVO – alunos de 7º ano – E.F.II.


II - “NO AEROPORTO”




Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos de vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo. Plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e o oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.

Objeto que visse em nossa mão, requisitava- Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógio de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e ( é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis – porque me esquecia dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade – e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário, de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. 
Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.





1)             Localize no texto palavras que comprovem o gênero do narrador.
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2)             Identifique as ações praticadas pelo personagem Pedro, descritas no texto lido, e compare-as com as ações comuns nas faixas etárias a seguir, completando o quadro.

Faixa Etária
Comportamento
ADOLESCENTE




IDOSO






3)                 Em uma roda de conversa, discuta com seus colegas e professores a possível origem dos preconceitos, tendo em vista a generalização que fazemos em relação aos comportamentos alheios, assim como foi feito no caso do personagem Pedro.

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